Você já pensou em qual sua capacidade de processar emoções? Você já pensou em emoções como algo que passe por diferentes fases de um processo? Que fases são essas e qual resultado final de uma emoção bem processada?
O processamento de emoções é uma habilidade mental sofisticada, com várias dimensões, que merece atenção especial porque, em algumas pessoas, melhora ao longo da vida e as torna mais fortes e adaptadas, e, em outras, piora, o que as torna mais frágeis, menos adaptadas.
Quando emoções são processadas de forma adaptativa, elas alimentam motivações e hábitos saudáveis. Erros no processamento podem conduzir a a vícios de comportamento e reduzir a capacidade de encontrar prazer e motivação.
“Erros” no processamento podem, por exemplo, alimentar o tipo de sofrimento psíquico que caracteriza a depressão. Pacientes com depressão frequentemente passam longos períodos remoendo de maneira repetitiva lembranças ou pensamentos que evocam sentimentos de culpa, inadequação, incapacidade. Essas ruminações depressivas podem ser vistas como falhas no processamento emocional.
Você às vezes se percebe perdendo muito tempo com algo que está totalmente fora do seu controle ou que não está produzindo conclusão nenhuma, só alimenta preocupações, insegurança ou medo? Não é só quem sofre com depressão que se beneficia de melhorar o processamento emocional.
Tratamentos médicos para depressão, de certa maneira, atuam facilitando o processamento emocional, modificando a comunicação e a atividade em regiões cerebrais envolvidas em diferentes fases do processamento.
A maior parte dos tratamentos médicos para depressão não age como “elevador de ânimo”, mas como modificador do equilíbrio na primeira fase do processamento de emoções, reduzindo o impacto que cada emoção produz na consciência ou aumentando a capacidade de resistir ao impacto da emoção. Essa mudança, de maneira indireta, ajuda a pessoa a adotar novas atitudes e corrigir vícios no sua relação com emoções.
Tratamentos psicológicos também podem ter seu sucesso medido na medida em que “ensinam” a pessoa a lidar com emoções e processá-las de forma adaptativa.
Diferente de aprender a resolver um problema, no entanto, aprender a lidar com emoções requer mais que “perceber e entender”, requer também prática, exercício, hábito.
Recomendações sobre como alimentar um processamento de emoções saudável podem ser encontradas não só no campo da psicologia como em campos do conhecimento tão diversos como filosofia, arte, religião, tradições culturais ou familiares.
Entre essas diversas fontes de aconselhamento, um grupo que merece destaque para aplicação em saúde mental são os programas de educação combinados com diferentes técnicas de meditação de atenção plena que foram adaptados, a partir da tradição budista, para uso médico.
Muitos desses programas e técnicas foram extensamente investigados pelo método científico apoiado pela mais recente tecnologia de neuroimagem funcional.
Apesar do enorme desafio que é envolver pacientes em um programa de educação da relação com as emoções, essas técnicas demonstraram um claro poder não só de produzir melhora como provocar modificação na estrutura e função de regiões cerebrais envolvidas no processamento de emoções.
A primeira etapa desses treinamentos envolve exercitar a atenção. Para ter ideia do que você pode obter quando consegue melhorar sua capacidade de processar emoções, é preciso prestar atenção ao tipo de conclusão ou reação a que você é conduzido quando algo que você percebeu ou pensou provoca uma emoção.
É importante que você esteja atento no exato momento em que a emoção foi produzida. Se você só se observa e se questiona vários minutos após a emoção ter sido produzida, é mais provável que você só perceba o resultado final do processamento viciado, automático, da emoção, na forma de desânimo ou angústia, por exemplo.
Esse impacto da emoção na consciência é a primeira fase do processamento emocional: a percepção, o instante em que a emoção aparece.
A segunda fase deve ser a investigação, a visualização da emoção no contexto atual, no momento presente, à luz da razão e da experiência prévia.
A terceira fase, caso a pessoa tenha conseguido controlar a reação imediata, instintiva, define a reação equilibrada, ponderada.
A quarta fase é a aceitação e incorporação. A aceitação daquilo que está fora do controle e, por fim, o aprendizado, a incorporação à experiência e seu reflexo na formação de hábitos, motivações e prazeres.
Cada uma dessas fases envolve estruturas cerebrais e neuro química diversas e reflete um aprendizado diverso. O processamento emocional é mais do que um programa de aprendizado para a vida. É um programa inscrito na nossa biologia.
Se você está recebendo um tratamento médico para depressão, é ainda mais importante dar atenção a esse aprendizado. Ajude o tratamento médico a ajudá-lo: avalie o desempenho de seu processamento emocional e procure conversar com alguém que já participou de um programa de meditação de atenção plena. Você talvez encontre pessoas que tiveram sua vida modificada pelo que aprenderam. Espero que isso o encoraje a experimentar e comprovar em si próprio o que você ouvir.
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